Na visão da população brasileira, o vínculo com adultos aparece apenas em quarto lugar entre os itens importantes ao desenvolvimento da criança de até 3 anos. Antes dele, estão as ações relativas aos cuidados físicos (levar ao pediatra, amamentar e alimentar).50

Também é recorrente a visão da sociedade de que a criança é um ser passivo, cuja atuação se resume a absorver, como uma esponja, e a refletir, como um espelho, os exemplos oferecidos pelos adultos. Além disso, o amplo acesso às novas tecnologias é visto pelo público brasileiro como algo positivo. Assistir a desenhos ou programas infantis na TV é apontado por 55% das mães como a principal ação utilizada para estimular o desenvolvimento do filho de até 1 ano de idade.

Informações que valem ser divulgadas

  • A criança aprende por meio da interação e de relacionamentos significativos, nos quais ela recebe afeto e estabelece vínculo com outra criança, com outro adulto e consigo mesma.
  • A interação com os pais ou responsáveis, avós, irmãos mais velhos, professores e outras crianças é fundamental e sua importância é comprovada pela ciência. Esse é, segundo especialistas, um dos melhores estímulos que a criança pode receber.
  • O contato com a natureza e a experimentação de novas texturas, sabores e sons também devem ser priorizados.51
  • Mencione, sempre que possível, algumas das principais inovações introduzidas pelo Marco Legal da Primeira Infância. Essa lei determinou, por exemplo, que as políticas públicas voltadas ao atendimento dos direitos da criança na primeira infância sejam elaboradas e executadas de forma a incluir a participação da criança na definição das ações que lhe digam respeito (art. 4, II) e considerou como áreas prioritárias às políticas públicas para a primeira infância a cultura, o brincar e o lazer, entre outras (art. 5).
  • A televisão e outros dispositivos eletrônicos, como computador, tablet, videogame e smartphone, são atraentes para as crianças pois oferecem estímulos visuais, musicais e rítmicos. Porém, não há qualquer evidência científica de que tragam benefícios ao desenvolvimento infantil.
  • Há recomendações a respeito da idade mínima e da exposição máxima diária às telas em geral. A Academia Americana de Pediatria (AAP) aconselha aos pais que evitem por completo a exposição de crianças de até 2 anos à televisão.52 A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) segue essa recomendação e orienta que o tempo máximo de exposição de crianças com mais de 2 anos a uma tela (incluindo computador, tablet, videogame e smartphone, além da televisão) seja de duas horas diárias. Para crianças maiores, a recomendação é de que os pais definam estratégias concretas para gerenciar o uso de mídia: assistindo ao conteúdo junto com ela; não instalando uma televisão no quarto das crianças; e controlando o uso de mídia de si próprios, de modo a não comprometer o tempo de interação com os filhos.
  • Atividades como brincar, passear, conversar, cantar e contar histórias são importantes ao desenvolvimento pleno da criança.
  • Os adultos devem ficar atentos não apenas à falta de estímulos, mas também ao excesso. A criança precisa de tempo para descansar e para brincar, bem como para atividades não assistidas – aquelas que ocorrem sem o direcionamento e a interação com um adulto. O desenvolvimento da criança também se dá por meio das próprias descobertas, ou seja, ela deve ser ativa nesse processo, para se tornar capaz de aprender a aprender.53

Informação sem complicação

  • Uma boa maneira de explicar como as interações significativas entre bebês e adultos contribuem para o desenvolvimento do cérebro é utilizar a metáfora do Bate-Bola. Assim como no futebol, as crianças e as pessoas que convivem com elas precisam estar atentas umas às outras para conseguir fazer a troca de passes e levar a bola adiante.
  • O cérebro das crianças de até 3 anos se desenvolve pela interação entre elas e os adultos: as crianças passam a bola – na forma de vocalizações, gestos ou palavras – e os adultos a devolvem, sintonizando-se com a criança. Assim, quando os bebês e as crianças passam a bola, tentando interagir pela emissão de sons ou de gestos e expressões faciais, os adultos precisam mostrar que estão atentos para devolvê-la, com sons, gestos, palavras e expressões faciais, como se estivessem respondendo a eles.
  • Para abordar a importância das interações entre crianças e adultos, em vez de se referir a “bom exemplo”, procure reforçar a ideia do “bom estímulo”, que acontece pela comunicação entre o bebê e o adulto de referência. Explique que, para estimular um bebê que ainda não fala, não é necessário apelar para comportamentos como repetir diversas vezes uma palavra na intenção de que ele o imite (ou “siga o exemplo”). O movimento, na verdade, é inverso: depois de um balbucio, responda a ele e continue a conversa à sua maneira. (Saiba mais sobre a importância de conversar com as crianças com o Nenê do Zap)
  • Aponte que a criança também aprende ao imitar os comportamentos dos adultos e de seus pares mais velhos. Repetir gestos, palavras e sons é uma forma de internalizá-los (veja mais abaixo, em Ferramentas de comunicação e outras inspirações). Por isso, é importante que os adultos estejam atentos ao que fazem na frente das crianças.
  • Para brincar, não é preciso ter brinquedo. Dê a dica: o faz de conta ou uma simples caixa de papelão podem proporcionar ótimos momentos de interação com a criança.
  • Reforce que atividades lúdicas são importantes não apenas porque são prazerosas para a criança, mas também porque são importantes ao seu desenvolvimento. Segundo especialistas, esse é um dos melhores estímulos que ela pode receber. Ainda assim, esse fato costuma ser ignorado pela sociedade e pouco explorado nos canais de comunicação em geral. Portanto, procure enfatizar a importância do brincar ao falar sobre a primeira infância.
  • Para mostrar a importância da interação das crianças com pessoas (e não apenas com telas), você pode recorrer às recomendações de organizações como a SBP e a AAP e a comparações que todos entendam. Um aplicativo que promete ensinar palavras nunca será mais eficiente na aquisição da linguagem do que a interação do bebê com a mãe, o pai ou o adulto de referência que conversam diretamente com ele. Para abordar o assunto, procure usar exemplos práticos como esse.
  • Sempre que for o caso, ressalte a recomendação de especialistas de que crianças com menos de 2 anos não sejam expostas às telas.54
  • Procure enfatizar os prejuízos do consumo excessivo55 e da exposição às telas. Isso pode ser feito por meio de referências genéricas ou de menções específicas a pesquisas nacionais e estrangeiras que abordem o tema. O site criancaeconsumo.org.br traz muitos exemplos de fácil compreensão, assim como o documentário "Criança, a Alma do Negócio, de Estela Renner”.
  • Vale também mencionar o que diz a lei. O Marco Legal da Primeira Infância estabelece entre suas prioridades a “proteção contra a pressão consumista” (art. 5).
  • O ODS (Objetivo de Desenvolvimento Sustentável da ONU) 12 trata exatamente de consumo responsável. Programas que ensinem as crianças a terem atitudes menos consumistas e mais sustentáveis vão ajudar a preservar os recursos naturais e evitar desperdícios. Veja mais sobre os ODSs e a primeira infância.

Ferramentas de comunicação e outras inspirações

Sugestões de imagens

  • Prefira imagens e fotos de crianças interagindo com adultos ou mesmo com outras crianças em situações diversas (brincando, lendo ou conversando), para ressaltar a importância da interação no desenvolvimento na primeira infância.
Crédito: Guga Ferri
  • Evite utilizar imagens de crianças assistindo à TV ou digitando no smartphone ou no tablet, embora sejam bastante comuns.
Crédito: Guga Ferri
Crédito: Léo Sanches
  • Para mostrar que não é preciso ter brinquedos caros, utilize fotos de crianças brincando com objetos do dia a dia, como caixas, panelas, roupas etc.
Crédito: Léo Sanches

A metáfora do Bate-Bola entra em campo

  • Um programa da série Quando Tudo Começa 56, produzida pelo Discovery Home & Health, explica o conceito da metáfora do Bate-Bola de maneira bastante didática. A sequência de imagens revela pai e filho trocando passes de bola em um gramado, mostrando que é preciso que ambos estejam atentos para tocar a bola um para o outro e fazer o jogo seguir. É nesse bate-bola que o desenvolvimento infantil acontece, com a criança dando o primeiro passe e o adulto respondendo a esse movimento. O ambiente e a qualidade das interações interferem na forma de a criança ser e se relacionar com o mundo. Além do futebol, outras atividades lúdicas em que a ação da criança precisa de uma resposta do adulto e vice-versa também podem ilustrar essa metáfora.

Tal pai, tal filho

O filme publicitário Smart Forfour: Kids, da Alemanha57, mostra várias crianças falando palavrões e fazendo gestos obscenos. Quando perguntadas com quem elas aprenderam, prontamente respondem “com os próprios pais quando estavam dirigindo”. Essa peça foi eleita uma das 20 candidatas ao Leão do Festival de Cannes em 2016.