“É preciso toda uma aldeia para educar uma criança”, diz, com razão, um provérbio africano. No Brasil, no entanto, ainda é forte a concepção de que a responsabilidade pelo desenvolvimento da criança é única e exclusiva da família.66 Para 65% dos brasileiros, os pais são responsáveis por atender a todas as necessidades das crianças de até 3 anos.67

Informações que valem ser divulgadas

  • A Constituição brasileira (art. 227) determina que a família, a sociedade e o Estado têm o dever de assegurar com absoluta prioridade os direitos da criança, do adolescente e do jovem.68
  • Quando os pais e as famílias sentem-se amparados pela comunidade e pelos agentes sociais e governamentais, conseguem cuidar melhor dos filhos, atendendo às suas necessidades de forma mais ampla.69
  • Serviços como saúde, educação, proteção e assistência social são fundamentais para o desenvolvimento na primeira infância. Os profissionais dessas áreas são importantes fontes de informações, serviços e suporte emocional para as famílias, ajudando-as a superar desafios e a construir um ambiente favorável às crianças.70 Por isso, é necessário mostrar a importância do trabalho em rede para garantir os direitos da criança.
  • É direito de toda criança ser criada no seio de uma família - natural ou substituta - e de crescer em uma comunidade. Essa diretriz está prevista no capítulo 3 do ECA, que também trata de perda de guarda, tutela, adoção, etc. É importante enfatizar que família não é apenas aquela que possui laços sanguíneos.

Informação sem complicação

  • Procure divulgar quais são e como ter acesso aos serviços públicos de saúde e de assistência social disponíveis para as crianças.
  • Reforce, sempre que possível com exemplos, que o trabalho articulado das instituições que formam a rede de proteção às crianças deve ocorrer tanto no planejamento quanto na realização de ações. Pontue a necessidade de iniciativas em âmbito federal, estadual e municipal.
  • Experiências bem-sucedidas de articulação entre profissionais ou áreas que atendem a primeira infância, como a campanha do soro caseiro, podem ilustrar na prática o que você está falando (veja mais abaixo, em Ferramentas de comunicação e outras inspirações)).
  • Vale citar as várias formas de acolhimento institucional, como abrigos ou o programa de famílias acolhedoras (serviço de acolhimento para crianças de 0 a 3 anos, em famílias voluntárias formadas e supervisionadas, até sua reintegração familiar ou adoção).
  • Procure mostrar em seus textos ou falas que o impacto de todos os atores (família, professores, vizinhos, médicos etc.) no desenvolvimento da criança é determinante para o seu futuro e que essas influências podem ser positivas ou negativas. Para isso, use estudos, exemplos, pesquisas ou mesmo depoimentos.
  • É importante mostrar a força de ações que envolvem mais de uma área em prol do desenvolvimento infantil, se possível, com resultados concretos.71 Iniciativas intersetoriais como a Semana do Bebê (mais detalhes no capítulo 8), em Pernambuco, conseguiram, por exemplo, quantificar avanços em diversas áreas, como no acesso à creche e à pré-escola, na cobertura vacinal e na diminuição da mortalidade infantil.72 Os avanços foram divulgados em vários posts no Facebook com destaque para os números que comprovam a evolução. Uma estratégia que costuma dar certo, especialmente nas redes sociais.

Ferramentas de comunicação e outras inspirações

Sugestões de imagens

  • Uma criança suja e descalça sorri nos braços dos pais. A foto mostra o afeto entre eles, mas ignora o contexto: as más condições de moradia ou a inexistência de creches, postos de saúde ou de serviços básicos como saneamento. Prefira imagens que situem o contexto em que a criança vive, pois este é tão ou mais importante para o desenvolvimento na primeira infância.
Crédtio: Raoni Maddalena
  • Procure mostrar imagens de crianças sendo atendidas por agentes de saúde, professores e outros profissionais para ilustrar a importância da rede de apoio às famílias para o desenvolvimento infantil.
Crédtio: Guga Ferri
  • Imagens de crianças recebendo a atenção de parentes, amigos, vizinhos e outros integrantes da comunidade também podem ser usadas para ilustrar a importância de todos no desenvolvimento infantil.
Crédito: mynameisharsha via Visualhunt / CC BY-SA

Uma campanha que salvou vidas

A campanha pela disseminação do uso do soro caseiro é um exemplo histórico de sucesso de articulação para ampliar o alcance da comunicação das soluções sociais desenvolvidas no país.73

Em 1986, a Rede Globo, a Pastoral da Criança, a Sociedade Brasileira de Pediatria e o Unicef se uniram para realizar essa campanha. A sugestão da articulação partiu do Unicef. Como a iniciativa havia sido um fracasso na Indonésia, nas Filipinas e na Índia porque contava apenas com o apoio governamental, no Brasil a ideia foi fazer diferente.

A campanha, que foi veiculada nos intervalos da programação da Rede Globo, mostrava uma pessoa de baixa renda explicando a importância do soro caseiro. O mote era: O soro caseiro deve ter o gosto da lágrima. Essa receita vale uma vida.74 Segundo pesquisa encomendada pela Rede Globo, com essa ação o soro caseiro se tornou tão conhecido quanto o refrigerante mais consumido à época, a Coca-Cola. Logo no primeiro ano já apareceram os resultados. A morte por diarreia passou do primeiro para o terceiro lugar entre as causas de óbito infantil.