Com base em nossa experiência, em entrevistas com mais de uma dezena de especialistas135 e comunicadores e em consulta a quase uma centena de pesquisas, materiais de comunicação, estudos e publicações,136 listamos, de modo resumido, as principais dicas e sugestões que podem ajudar a comunicar melhor a primeira infância.

Enfatize os conceitos principais – O desenvolvimento na primeira infância (fase que vai do nascimento até os 6 anos de idade) é um assunto complexo, quase sempre repleto de termos e explicações difíceis de entender e comunicar. Por isso, é importante falar várias vezes – e de diversas formas – a mesma coisa, para fixar conceitos. Simplicidade e repetição não precisam ser chatos.

Quando você se refere a desenvolvimento na primeira infância, reforce sempre de qual período está falando. Também podem ser usados meios diferentes de se falar a mesma coisa, como neste caso: “desde o nascimento até os 6 anos de idade”.

Evite simplificações exageradas – Cuidado para não empobrecer ou simplificar demais os textos. É importante transmitir conhecimentos e também termos mais complexos. Nesses casos, é essencial traduzir os conceitos de maneira didática.

Prefira “Na hora do brincar, a criança aprende a esperar a sua vez enquanto aguarda o seu colega jogar. Um bom momento para ensinar regras e limites” (mais específico) a “O aprendizado da criança acontece na hora do brincar” (mais genérico).

Traduza os jargões – Evite jargões. Procure sempre traduzi-los para que qualquer pessoa possa compreender o que você está falando. Observe ainda as nomenclaturas usadas por especialistas da área. Usar nomes totalmente novos para falar das mesmas coisas confunde o público.

Prefira... a...
Dormir na cama dos pais Cama compartilhada
Criar e educar os filhos entendendo e respondendo às necessidades deles137 Criação com apego
Sem castigos ou palmadas Disciplina positiva

Use pesquisas e estudos – Sempre que possível, mencione no texto pesquisas e informe a fonte e o porte do estudo citados por você. Nem todos os especialistas – e muito menos o público leigo – estão atualizados sobre o desenvolvimento infantil. Por isso, é importante, sim, respaldar seus argumentos com o que a ciência diz.

Em comunicações mais curtas e rápidas, como postagens nas redes sociais, vídeos no YouTube ou programas de rádios comunitárias, pode ser suficiente mencionar de forma genérica que a ciência já comprovou a validade da orientação X ou Y.

Mostre os processos de desenvolvimento do cérebro no início da vida – Ao comunicar a primeira infância, procure inserir esse tipo de explicação e seja específico a respeito das idades em que ocorrem processos-chaves, como seguir os objetos e pessoas com os olhos e sorrir (entre o nascimento e os 3 meses), sentar sozinho ou falar as primeiras palavras (entre 7 e 12 meses).138

Segundo o Centro de Desenvolvimento Infantil da Universidade de Harvard,139 se as políticas educacionais fossem guiadas pelo que sabemos a respeito do desenvolvimento do cérebro, o aprendizado do segundo idioma, por exemplo, seria uma prioridade na pré-escola, e não no início da adolescência

Um bom exemplo de como essa “tradução” da ciência pode ser feita de forma simples e clara é o especial multimídia Primeira Infância, do jornal Folha de S.Paulo, publicado em agosto de 2015.140 Nele, as fases do desenvolvimento são traduzidas em imagens e textos explicativos que mostram o processo e em que área do cérebro da criança o desenvolvimento ocorre nessas diferentes fases.

Valorize as bagagens culturais – Nas comunicações, procure orientar os adultos de referência sobre o desenvolvimento infantil e direitos, valorizando sempre as diferenças e as origens culturais.

Tenha atenção aos termos – As necessidades das crianças são as mesmas, independentemente da classe social. Apesar disso, termos como “defasadas”, “carentes” e “imaturas” aparecem,141 muitas vezes, associados a crianças mais vulneráveis. Fique atento e evite essa divisão da infância.

Procure reforçar o que é preciso para todas as crianças brasileiras, sem distinção de nível socioeconômico, a não ser que sua comunicação esteja de fato tratando de uma faixa específica da sociedade, ou uma cidade, comunidade ou região, por exemplo.

Reforce a individualidade – Lembre que não é possível padronizar e tratar todas as crianças igualmente. Cada uma delas é um ser único e individual. Por isso mesmo a Educação Infantil é tão desafiadora: a criança deve ser tratada e compreendida em sua individualidade.

Preocupe-se com a inclusão – A comunicação deve ser inclusiva em todos os aspectos. Lembre-se de falar a todos os gêneros, a pessoas com e sem deficiência, a diferentes etnias e a diversos níveis socioeconômicos e culturais.

Elimine termos preconceituosos – Não use termos preconceituosos ou politicamente incorretos.

Não use... Use...
Judiar Maltratar
Deficientes Crianças com deficiência
Portadores de deficiência Crianças com deficiência
Portadores de necessidades especiais Crianças com deficiência
Menores Crianças com menos de 6 anos
Crianças de rua Crianças em situação de rua

Evite estrangeirismos – Procure não usar palavras em inglês, como toddler (criança entre 1 e 3 anos de idade, que já não é bebê de colo, mas ainda não é independente) ou terrible two (“os terríveis 2 anos”, em tradução livre, conhecidos como adolescência precoce). Prefira termos em português que expliquem o conceito.

Seja preciso – Evite imprecisões, como crianças pequenas, e generalizações como “todos os meninos” ou “todas as meninas” fazem isso ou aquilo. Identifique a idade ou a faixa etária das crianças e deixe claro que não existem verdades universais. Para ser conciso, corte palavras desnecessárias.

Exemplifique – Sempre que possível, forneça exemplos e números.

Compare o comparável – Ainda sobre comparações, não rotule nem compare as crianças entre si.

Use as expressões adequadas para falar de Educação Infantil – Não use o termo “ensino” para se referir a essa etapa da educação. Também não se refira a essa etapa como “preparatória” para o Ensino Fundamental.

Em vez de "ensino infantil" ou "etapa de ensino", utilize "Educação Infantil" e "etapa da educação básica". Também evite termos como "aluno", "estudante" ou "escola". Refira-se a "crianças", "bebês", "pré-escola", "creche" ou "instituições de Educação Infantil".

Escute o que as crianças têm a dizer – Ouça as crianças e leve sempre em conta o contexto em que cada uma vive.

Use a criatividade para falar das leis – Diversas campanhas brasileiras, como a famosa “Lugar de Criança é na Escola”,142 fizeram muito bem essa “tradução” ao público em geral (veja mais abaixo Ferramentas de comunicação e outras inspirações).

A campanha, um marco no enfrentamento ao trabalho infantil, rompeu com o mito de que é melhor a criança trabalhar e traduziu o que está na lei de modo assertivo: Lugar de criança é na escola.

Fale do impacto das leis na vida das pessoas – Em vez de reproduzir textos legais, procure mostrar como a lei impacta o dia a dia das pessoas. O Marco Legal da Primeira Infância,143 por exemplo, que ficou conhecido pela ampliação da licença-paternidade de 5 para 20 dias,144 traz muitas outras inovações práticas que podem ser abordadas ao se falar do assunto. Entre elas, estão:

  • garantia do direito de brincar;
  • envolvimento das crianças na formatação de políticas públicas;
  • proteção das crianças contra a exposição precoce ao consumo e aos meios de comunicação;
  • instituição de programas de fortalecimento da família nos exercícios de cuidado e educação dos filhos, favorecendo a formação e a consolidação de vínculos afetivos;
  • expansão da Educação Infantil de qualidade.

Aborde a perspectiva do direito – Trate as crianças sempre como sujeitos de direitos. Ou seja, respeite os casos em que elas não possam ser expostas e procure lhes dar voz.

Ao comunicar violência doméstica ou trabalho infantil, por exemplo, enfatize quais direitos estão sendo violados, como educação, saúde, convivência familiar etc.145

Aponte caminhos – Mostre exemplos de iniciativas e projetos bem-sucedidos direcionados à primeira infância, que possam – por que não? – inspirar outras ações.

Explique o que há por trás dos números – Indicadores das mais diversas áreas, como saúde e educação, ajudam a mostrar a complexidade dos desafios que as crianças de até 6 anos enfrentam no país, mas não bastam. É importante destacar o que há por trás dos números, enfatizando, sempre que possível, os dados mais relevantes por meio de análises e comparações por localidade (urbana ou rural), região ou por raça/etnia, por exemplo.

Não idealize o papel dos pais – Não existe um jeito certo e absoluto de criar filhos. Textos com definições muito fechadas, como “pai faz/sente isso” ou “mãe faz/sente aquilo” reforçam tais estereótipos.

Repudie sempre a violência – A violência não gera qualquer aprendizagem. E, pior, a criança, em geral, nunca esquece. A comunicação deve procurar reforçar que bater em criança é crime previsto em lei. Deixe claro que os pais não têm o direito de bater nos filhos. Práticas parentais abusivas devem sempre ser condenadas.

Promova o desenvolvimento infantil – Hoje, há o consenso da necessidade de se ir além do discurso da sobrevivência, discurso predominante no Brasil até os anos 1990. Reforce a perspectiva de que é preciso desenvolver a criança para desenvolver a sociedade146.

Mostre o contexto social – Procure não individualizar problemas sociais. Sempre que possível, mencione o contexto em que a criança vive.

Em vez de retratar apenas o rosto de uma criança que vive em um ambiente de pobreza, procure mostrar a situação de saneamento, as casas, as creches, pré-escolas e escolas, os postos de saúde, ajudando a entender melhor a complexidade da situação.

Explique sobre o que você está falando – Quando falar de Educação Infantil, por exemplo, deixe claro que você está falando de creches e pré-escolas. O termo vem sendo usado em algumas áreas para se referir a qualquer tipo de educação de crianças, seja em instituições, seja em casa, e isso pode gerar confusão.147

Estimule diálogos intersetoriais – Para a promoção do desenvolvimento infantil, é fundamental que as áreas conversem entre si a fim de desenvolver programas e projetos com um olhar único para a criança e sua família.148 Afinal, tanto a criança quanto sua família são uma só e podem ser atendidas, ao mesmo tempo, por vários serviços.

Por isso, vale ressaltar nos textos ou nas falas a importância de todos trabalharem em conjunto, para apoiar e reforçar as atividades uns dos outros.

Fuja dos estereótipos – Rosa para meninas, azul para meninos; brinquedos de menino, brinquedos de menina; profissão de menino, profissão de menina. Essa divisão não existe, mas está presente em diversas comunicações sobre a primeira infância. Fique atento para não reproduzir estereótipos.

Foque na qualidade, não na quantidade – Segundo pesquisa do Instituto FrameWorks,149 o interesse da mídia tem se centrado na quantidade de serviços e programas disponíveis para crianças. Raramente aborda a qualidade dessas intervenções. Procure focar na qualidade da política pública para a primeira infância, mostrando, por exemplo, em quais evidências científicas ela se apoia.150

Para ter sempre em mente

Na hora de promover o desenvolvimento na primeira infância, lembre-se de:

  • observar antes de agir;
  • colocar-se no lugar do ouvinte;
  • incluir públicos diversos como audiência das suas comunicações;
  • usar diferentes linguagens para as mensagens que deseja transmitir;
  • apoiar-se em diferentes meios de comunicação: web, rádios, mídias sociais, lideranças comunitárias, eventos diferentes, dinâmicas sociais, reuniões, entre outros;
  • criar peças de comunicação atraentes;
  • contar histórias;
  • usar o bom humor;
  • mostrar exemplos motivadores;
  • diferenciar quais são as mensagens-chave que se multiplicam, procurando divulgá-las e estimulando, assim, a transformação.

Ferramentas de comunicação e outras inspirações

De olho na escolha das imagens

Imagens e palavras devem ser tratadas com igual cuidado e atenção.

  • Se você está falando de desenvolvimento cognitivo na primeira infância e ilustra o texto, a palestra ou o post com a imagem de um menino de 6 anos sentado na sala de aula vai reforçar o que afirma o senso comum, que o aprendizado só acontece na escola e com crianças mais velhas. Seria muito melhor escolher imagens de adultos de referência ou cuidadores lendo para crianças bem pequenas para tratar desse assunto.
Crédito: Guga Ferri
Crédito: Lalo de Almeida
  • Cerca de 90% das imagens que aparecem de grávidas em sites de busca na internet se reduzem a closes na barriga e a momentos de solidão (em exames, consultas ou em casa). Procure usar fotos e ilustrações que mostrem grávidas em atividade (não apenas sentadas, em compasso de espera), e, de preferência, com apoio emocional de outras pessoas, como família, sociedade, parceiro.
creativecommons.org/licenses/by/2.0
  • Homens também trocam fraldas, leem histórias para as crianças, dão comida para os bebês.... Lembre-se disso na hora de escolher as imagens para não mostrar apenas mulheres nessas atividades.
Crédito: Guga Ferri
  • Priorize imagens de crianças ativas, que estejam claramente fazendo algo ou interagindo com alguém. Esse tipo de ilustração reforça a mensagem de que a criança não é passiva, mas sim uma exploradora do seu mundo e da sua realidade.
Crédito: Guga Ferri
  • Evite imagens que retratem a criança vestida ou executando ações de adultos. Uma criança brincando com seus brinquedos em casa ou se divertindo em um tanque de areia no parque representa melhor a sua realidade que mostrá-la em um laboratório, com avental, por exemplo.
Crédito: donnierayjones via VisualHunt / CC BY
Crédito: Thinkstock
  • Procure não usar imagens de crianças que pareçam ter mais de 6 anos. Para destacar a importância da primeira infância como o período que vai do nascimento aos 6 anos de idade, evite usar imagens de crianças que pareçam mais velhas (mesmo que elas tenham menos do que isso). Prefira imagens de crianças que aparentem ter entre 1 e 4 anos de idade, período, em geral, não associado à primeira infância.
Crédito: Léo Sanches
Crédito: Léo Sanches
  • Independentemente do assunto em pauta, as fotos ou ilustrações precisam ser mais do que bonitas e impactantes. Devem ser entendidas inclusive por pessoas não alfabetizadas. Pergunte-se sempre: a imagem “fala” o que é preciso ser comunicado?

Bom humor na gravidez

Line Severinsen, ilustradora norueguesa, criou uma divertida série na qual retrata o dia a dia de uma mulher grávida. O projeto, que se chama “Kos og Kaos” (Afagos e Caos, em tradução livre), mostra os desafios e a realidade das gestantes, além de abordar, com humor, dúvidas e emoções dos homens nesse período. Uma abordagem mais humanizada e menos idealizada da gestação é sempre melhor para a mãe e, em especial, para o bebê. Disponível aqui.

Disponível aqui.

Como entrevistar crianças

A Education Writers Association (EWA), dos Estados Unidos, produziu um guia com o passo a passo de como jornalistas e demais comunicadores devem entrevistar crianças. A publicação foi traduzida e republicada com a permissão da EWA pela Associação de Jornalistas de Educação (Jeduca). O guia pode ser acessado aqui e traz dicas como:

  • Nunca pressione crianças a dar entrevistas.
  • Deixe claro às crianças que elas não têm de responder a todas as perguntas e que a entrevista pode ser interrompida a qualquer momento.
  • Peça a autorização dos pais ou responsáveis para a entrevista.
  • Use linguagem apropriada à idade, mas não menospreze a criança.
  • Se tiver dificuldades em fazer a criança falar, comece perguntando sobre seus hobbies, mesmo que não sejam importantes para a reportagem.
  • Perguntas específicas como “Me dê um exemplo de outra situação em que você se sentiu dessa forma” são geralmente mais eficazes que “por quê?”.
  • Evite fazer entrevistas via Facebook, Twitter e outras redes sociais. Informações fornecidas online podem ser facilmente falsificadas ou manipuladas. São raros os casos em que cabe a reprodução de posts de crianças, como comentários sobre um colega ou professor que morreu. De qualquer forma, só identifique a autoria dos comentários depois de checar sua autenticidade e receber permissão para isso.
  • Cheque sempre as informações.
  • Tome cuidado redobrado com as perguntas. Se elas forem muito diretas, podem causar confusão, dor ou estresse. Em vez de dizer: “Você sentiu medo quando o homem puxou a arma?”, pergunte, por exemplo: “Como você se sentiu com o que aconteceu?”.

Uma semana de sucesso

Apoiada pelo Unicef, a Semana do Bebê é uma das iniciativas que podem servir como exemplo de ação inovadora de sucesso. Seu principal objetivo é promover uma série de atividades com base no tema “primeira infância”. São oficinas, cursos, palestras e atividades culturais com foco nos profissionais e nas crianças e suas famílias.

Para divulgar a iniciativa, são produzidas campanhas para as redes de TV locais que tratam da importância da atenção à primeira infância e convidam as pessoas a participar da Semana do Bebê em suas cidades. Em um dos vídeos, o convite é feito pelo ator Lázaro Ramos, embaixador do Unicef no Brasil. O apoio de personalidades à causa é outra estratégia que costuma dar certo.

Precisa desenhar, sim

Para falar sobre a importância de desenvolver a criança para desenvolver a sociedade, o Saving Brains151 explicou com poucas palavras e muitos desenhos à mão livre as últimas pesquisas científicas sobre o assunto. Um jeito criativo de traduzir ao público em geral o que diz a ciência. O vídeo traduzido para o português está disponível aqui.

Usamos o conceito parentalidade para descrever o conjunto de atividades desempenhadas pelo adulto de referência em seu papel de assegurar a sobrevivência e o desenvolvimento pleno da criança. Entretanto, sabemos que essa não é a melhor palavra para comunicar. As famílias, a imprensa, os profissionais que atuam na ponta, os acadêmicos e os gestores públicos não compreendem esse conceito logo de cara.

Então, fizemos um estudo para encontrar caminhos e metáforas que melhor traduzam o significado de parentalidade na cultura brasileira, a partir da perspectiva inicial de famílias de classes sociais C e D. O resultado desse estudo é o infográfico a seguir, com uma metáfora de fácil entendimento e identificação com o cotidiano das famílias.

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Modelos positivos

“Mensagens de ‘certo’ e ‘errado’ não são facilmente entendidas por pessoas com pouca ou nenhuma instrução”, alerta o guia do Unicef. Modelos positivos que mostram o que é necessário fazer costumam ser mais eficientes do que o contrário.152

Um dos exemplos dados pelo guia é brasileiro e vem do kit Família Brasileira Fortalecida, cinco álbuns que explicam os cuidados necessários com as crianças desde a gestação até os 6 anos (Disponível aqui). Em vez de mostrar a tomada sem proteção e produtos de limpeza facilmente acessíveis para a criança, a publicação ilustra o capítulo “Como evitar os acidentes” com as atitudes corretas: tomada coberta e produtos de limpeza fora do alcance das crianças.

Outro bom exemplo vem de Uganda. A organização Community and Home Initiatives for Long-term Development (CHILD), em conjunto com o Banco Mundial, produziu um folheto para falar dos principais cuidados com bebês e crianças de até 6 anos para pessoas com pouca ou nenhuma instrução.

O folheto, intitulado Caring for Children in Uganda (Cuidando das Crianças de Uganda, em tradução livre), tem muitas ilustrações e pouquíssimo texto. As imagens mostram atividades simples que estimulam as crianças em cada faixa etária, como brincar com areia, aos 7 meses, ou com objetos do cotidiano como potes, aos 14 meses.

Abaixo os estereótipos

Em um comercial, três professoras pedem para que uma classe com crianças em torno de 5 anos desenhe bombeiros, cirurgiões e pilotos de caça. Na sequência, uma série de imagens mostra os desenhos. Das 66 figuras produzidas, apenas 5 retratam mulheres exercendo tais atividades.

No fim, uma surpresa: as supostas professoras se apresentam vestindo os uniformes de suas verdadeiras profissões, justamente aquelas que pediram para as crianças representarem por meio de desenhos.

Produzido pela MullenLowe de Londres para a ONG inglesa Inspiring the Future, a campanha mostra como os estereótipos de gênero são assimilados desde cedo pelas crianças e como combatê-los com o exemplo. Veja o comercial aqui.

A favor da licença-paternidade

Para explicar a importância da ampliação da licença-paternidade no desenvolvimento da criança, a Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal preparou uma série de materiais (veja fotos), como um infográfico que sintetiza as principais pesquisas feitas na última década a respeito do impacto dessa política sobre o desenvolvimento infantil, a igualdade de gêneros e a amamentação.

Primeira infância por torpedos

Enviar mensagens SMS para comunicar a primeira infância é uma das boas ideias listadas no site do Saving Brains, um programa que apoia iniciativas inovadoras com foco no desenvolvimento infantil e que também conta com a parceria da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal.

Batizada de SMS Bebê, a iniciativa brasileira usa mensagens de celular para educar, instruir e lembrar pais e adultos de referência das melhores práticas para promover o desenvolvimento infantil. Saiba mais aqui.

Primeira Infância por Whatsapp

Com curadoria da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, o Nenê do Zap, como o próprio nome já diz, é um contato no WhatsApp que envia informações e dicas de conversa e interação para pais, mães, cuidadores e todas as pessoas que fazem parte da rede de relacionamento de crianças do nascimento aos 6 anos.

Com sua fofura e esperteza, o Nenê do Zap leva conteúdo sobre a primeira infância com uma linguagem acessível, com o objetivo de inspirar os adultos a participar bem de perto do desenvolvimento das crianças.

Lei sem mistério

Para falar do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) em linguagem acessível, facilmente compreendida pelas próprias crianças e adolescentes, a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) lançou, em 2007, a cartilha em quadrinhos O Menino Maluquinho e o Estatuto da Criança e do Adolescente, assinada pelo cartunista Ziraldo.

Outra forma de traduzir a lei é a realização de palestras, webinários (conferências transmitidas ao vivo pela internet) e seminários, como o Seminário Internacional do Marco Legal da Primeira Infância. O evento mostrou na sua quarta edição, em 2016, bons exemplos de aplicação prática do Marco Legal.

Era uma vez...

Contar histórias é um bom modo de envolver o público e engajar a audiência. Em março de 2016, o Unicef lançou uma série de filmes de animação no formato de contos de fadas às avessas (unfairy tales, contos desencantados, em tradução livre).

Todos são baseados em histórias reais, como a de Malak e o barco, que conta de forma fantasiosa a travessia da garotinha síria com amigos e familiares em um barco furado. No fim, uma surpresa: um vídeo com a verdadeira Malak se apresentando. Veja a animação aqui.

Outra estratégia usada pelo Unicef para personalizar as mais de 250 milhões de crianças que vivem em regiões de conflito no mundo foi criar uma menina virtual em animação 3-D usando 500 fotos reais de crianças que vivem em áreas emergenciais. Batizada de Sofia (o nome mais popular no planeta em 2015), a campanha foi veiculada em vídeo, em 2016. “Não sou real”, diz Sofia. “Sou o rosto de todas as crianças sofrendo em emergências das quais ninguém fala.” Veja a campanha aqui.

Tema complexo vira radionovela

O site Plenarinho usa jogos e até radionovela para comunicar direitos, trabalho infantil e racismo às crianças. A radionovela vai ao ar aos sábados, às 10h30, na Rádio Câmara e conta histórias como a de João Pedro, um garoto que falta às aulas para ajudar a família vendendo balinhas na rua. O enredo se desenrola em um clima de aventura fantástica, e a trilha sonora é do grupo Palavra Cantada. Um jeito criativo de abordar um tema difícil e complexo como o trabalho infantil.

Campanha muda hábitos

Alguns programas implementados a partir da década de 1970 contribuíram para melhorar muito os indicadores relacionados à primeira infância no Brasil. E as campanhas de comunicação realizadas para disseminá-los tiveram papel fundamental nos resultados alcançados. Por isso, ainda são exemplos que podem ser usados como referência para comunicar iniciativas atuais.

Na década de 1980, apenas 2% das crianças brasileiras de até 6 meses de idade se alimentavam exclusivamente de leite materno. Quase 30 anos depois, o índice passou para 39%.153 Parte desse aumento pode ser creditado ao Programa Nacional de Incentivo ao Aleitamento Materno no Brasil, lançado em 1981, que incluiu campanhas na televisão (alcance de 15,5 milhões de famílias) e no rádio (20 milhões de famílias), além de quatro propagandas na imprensa escrita visando atingir formadores de opinião. Folhetos de loteria esportiva, contas de água, telefone e energia e extratos bancários também veicularam o tema da campanha “Dê o seio ao seu filho pelo menos durante os seis primeiros meses”, por 45 dias, totalizando cerca de 10 milhões de contatos desse tipo.

Atualmente, todo mês de agosto o Ministério da Saúde organiza a Semana Mundial da Amamentação, com campanhas na mídia sobre a importância do aleitamento materno. Aproveitar datas como essa para esclarecer a população também é uma boa estratégia de comunicação.