“Criança supera fácil”: frases como essa são ouvidas frequentemente, nas mais diversas situações. Para o público brasileiro, a criança pode passar por situações estressantes e se recuperar facilmente desses traumas no futuro, ou até mesmo esquecer o que vivenciou. Mas isso é falso.

A verdade é que as crianças, sem o apoio de adultos, estão mais propensas a sofrer consequências graves em seu desenvolvimento em consequência de experiências negativas que vivenciaram na infância.

Informações que valem ser divulgadas

  • Há diferentes tipos de estresse39 e é importante diferenciá-los. São eles:
    • Estresse tóxico – Situações estressantes crônicas (ambientes desfavoráveis, negligência, abuso ou maus-tratos) causam respostas biológicas que afetam o desenvolvimento das crianças e podem, inclusive, prejudicar a arquitetura do cérebro e provocar impactos negativos em diferentes órgãos e sistemas.
    • Estresse tolerável – Está relacionado a alguma adversidade grave, como a perda de um ente querido ou um desastre natural, e ativa o sistema de alerta do corpo em um nível mais elevado. Se o estresse for temporário e compensado com a ajuda dos adultos, o cérebro e as demais partes do corpo conseguirão se recuperar de seus efeitos negativos.
    • Estresse positivo – Desafios enfrentados pelas crianças no cotidiano podem gerar situações de estresse de menor intensidade que, ao contrário do estresse tóxico e do estresse tolerável, são importantes para o desenvolvimento infantil. Por isso, especialistas os chamam de estresse positivo. Nesses casos, há um breve aumento do batimento cardíaco e elevações suaves dos níveis hormonais.
  • É necessário reforçar a importância de promover o apoio à criança e minimizar os problemas causados pela exposição ao estresse tóxico, ou seja, situações que causam respostas negativas e prejudicam o desenvolvimento cerebral.
  • Já o estresse positivo deve ser abordado como uma resposta normal a situações em que a criança se sente insegura, com medo ou frustrada e é considerado benéfico ao desenvolvimento saudável. Entre as situações que podem deixar a criança em estado de alerta estão: ter dificuldade em resolver um dever de casa, enfrentar um cachorro, presenciar uma briga entre os pais, vivenciar o primeiro dia de aula em uma nova escola.

Informação sem complicação

  • A metáfora do Semáforo (veja mais abaixo em Ferramentas de comunicação e outras inspirações) é um bom modo de comunicar clara e objetivamente a diferença entre os três tipos de estresse.
  • Artigos de opinião escritos por especialistas para jornais ou revistas ajudam a esclarecer melhor o conceito.
  • O termo estresse tóxico ainda não é usado com frequência no Brasil. Por isso, ao falar sobre o assunto, traduza a expressão ou utilize a explicação de um especialista – se possível com exemplos – para deixar claro o conceito (veja mais abaixo Ferramentas de comunicação e outras inspirações).
  • Este vídeo é bastante esclarecedor sobre o termo estresse tóxico.
  • Ao escrever sobre o assunto em textos científicos, procure usar, sempre que possível, o termo estresse tóxico. A Academia Americana de Pediatria (AAP), por exemplo, adotou essa postura em seus artigos sobre o tema.
  • No Brasil, estresse é tido como algo absolutamente negativo. Portanto, ao se referir ao chamado estresse positivo, inclua, sempre que possível, expressões como “desafio motivador” ou “estresse do bem” para diferenciá-lo dos outros tipos de estresse.40 Procure enfatizar como o apoio afetuoso dos pais e de outros adultos ajuda a criança a superar o estresse e contribui para o seu desenvolvimento.

Ferramentas de comunicação e outras inspirações

Sugestões de imagens

  • Utilize imagens de crianças em situações desafiadoras, com apoio de adultos (pais, professores, adultos de referência), para mostrar como o estresse positivo contribui para o desenvolvimento.
Crédito: Thinkstock
  • Uma série de vídeos feitos pelo Center on the Developing Child, da Universidade Harvard, explica de modo didático, com cores e animações, os efeitos do estresse tóxico nas crianças.41 Eles podem servir de inspiração para criar ilustrações voltadas para a realidade brasileira.

A metáfora do semáforo

  • Ao falar sobre como o estresse interfere no desenvolvimento infantil, você pode usar a ilustração de um semáforo, relacionando as cores a cada tipo de estresse. O estresse positivo é a luz verde. Ele ocorre quando a criança passa por dificuldades ou obstáculos normais do cotidiano importantes para o desenvolvimento. O estresse tolerável corresponde à luz amarela, quando a criança passa por situações muito estressantes, mas que são minimizadas graças a relacionamentos acolhedores e seguros. A luz vermelha é o estresse tóxico, que surge quando a criança passa por adversidades ou situações de descuido extremo, de maneira frequente e/ou prolongada, sem o apoio de um adulto de referência.

O poder da palavra

Nos Estados Unidos, o termo estresse tóxico, cunhado pelo Center on the Developing Child, da Universidade Harvard, se tornou frequente em matérias jornalísticas, posts e textos sobre a primeira infância. Foi usado pelo Congresso americano, que aprovou uma resolução sobre o assunto, e até pelo ex-presidente Barack Obama em um de seus principais discursos no segundo mandato. Ao usar esse termo para traduzir o conceito, imprensa, autoridades e especialistas contribuíram para divulgá-lo. Isso mostra que a utilização dessas ferramentas pode trazer resultados tangíveis diretos e indiretos, ajudando os especialistas brasileiros a comunicar ao público leigo conceitos mais difíceis e complexos

Estresse tóxico em documentário

“Quais são seus sonhos?”, pergunta-se a uma menina indiana no filme O começo da vida. Prontamente ela responde: “Eu não tenho sonhos”. Ela é a filha mais velha e tem a tarefa de cuidar de seus dois irmãos enquanto os pais trabalham. Esse é um exemplo de criança exposta ao estresse tóxico.

“A criança que vive em circunstâncias muito difíceis corre risco em seu desenvolvimento, principalmente aquelas que vivem na pobreza extrema. Não há tempo para pensar no amanhã. Isso acontece não porque seus pais não as amam, mas porque estão sobrecarregados pelas circunstâncias”, explica Jack P. Shonkoff, diretor do Center on the Developing Child, de Harvard, Estados Unidos, no documentário.

Exemplos de força

O filme Thank You, Mom42 é uma campanha da Procter & Gamble dos Estados Unidos para os Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro. As imagens revelam crianças que passam por situações de estresse em algum momento da vida, como uma turbulência durante um voo, mas que, com o apoio das mães, superam a experiência estressante e aprendem, também, a superar outros obstáculos, tornando-se campeãs. Por isso, a mensagem final homenageia as mães dos atletas: “É preciso alguém forte para fazer alguém forte”.