A relação entre os ODSs e os primeiros anos de vida é uma via de mão dupla!
De um lado, investir em objetivos que não estejam diretamente ligados à primeira infância beneficia o desenvolvimento das crianças - caso do ODS 3 (Saúde e Bem-Estar), que combate também doenças que são as maiores responsáveis pela mortalidade infantil.
Por outro lado, investir na primeira infância é uma forma de alcançar mais rapidamente as metas de muitos ODS – mesmo os que não citam diretamente essa faixa etária. Afinal, as crianças de até 6 anos são motores que ajudam a conduzir as mudanças esperadas pela ONU para os próximos 15 anos.
Para entender melhor como isso funciona, eis alguns exemplos citados por Pia Britto, chefe de desenvolvimento da Primeira Infância do Unicef:
ODS 1: Erradicação da pobreza
Investir no desenvolvimento da primeira infância é uma das estratégias de melhor custo benefício para reduzir a pobreza. Isso porque é no começo da vida, quando o cérebro está em sua capacidade máxima de se desenvolver, que as crianças aprendem habilidades que as ajudam a ser felizes e bem sucedidas na economia do século 21. Além disso, crianças que tiveram uma educação infantil de qualidade têm 24% mais chance de conseguir maiores salários e empregos melhores do que seus colegas que não frequentaram boas escolas, reduzindo a desigualdade social.
ODS 2: Fome zero, melhorar a nutrição e agricultura sustentável
Crianças que recebem estímulos e suplementos alimentares têm um desenvolvimento melhor do que as que recebem apenas suplementação, e isso amplia o impacto da nutrição adequada. Além disso, ações em prol da primeira infância minimizam o efeito do estresse, melhorando a absorção dos nutrientes ingeridos.
ODS 3: Saúde e bem-estar
Como aqui o foco é garantir uma vida saudável para toda a sociedade, vale lembrar que, quanto antes se investe no bebê ou na criança, mais é reduzida a chance de ele desenvolver doenças cardiovasculares e não transmissíveis ao longo de sua vida toda. Assim, é importante apontar como são fundamentais as ações e os programas de saúde realizados logo no início da vida, para assegurar o bem-estar da criança e evitar problemas no futuro. Para isso, destaque, por meio de exemplos ou estudos, a importância de detectar precocemente doenças/distúrbios e de que as crianças sejam assistidas por equipes multidisciplinares (médico, psicólogo, assistente social, professor etc.).
ODS 4: Educação de qualidade
O aprendizado começa até antes do nascimento. Tanto que estudos mostram que ações em prol do desenvolvimento da primeira infância são a base para que a criança consiga aprender, ter sucesso acadêmico e uma vida produtiva. Um estudo da ONU com dados de 73 países demonstrou que o aumento de matrículas na pré-escola fez com que as crianças, quando entraram no mercado de trabalho, ganhassem entre 6 e 17 dólares a mais por mês.
ODS 5: Igualdade de gênero
A relação entre desenvolvimento da primeira infância e empoderamento econômico da mulher é clara. Quanto maior o investimento em creches acessíveis e de alta qualidade, maiores as oportunidades para as mães avançarem no que diz respeito à economia e à autonomia financeira.
ODS 8: Trabalho decente e crescimento econômico
No objetivo que defende emprego pleno e justo, a oferta de creches e de outras formas de cuidados de crianças pequenas é essencial. Investir em profissionais que atuam nessa área e ampliar a oferta de vagas contribuiu para combater o desemprego, especialmente entre as mulheres. Isso porque a precariedade ou escassez de creches recai normalmente sobre as mães, que não podem voltar ao mercado de trabalho por não terem com quem deixar o filho. Ele também visa acabar com o trabalho infantil e aborda o recrutamento e emprego de crianças como soldados – uma inclusão fundamental para a agenda do desenvolvimento global.
ODS 10: Redução da desigualdade
A janela de oportunidade que representa a primeira infância pode ajudar a reduzir essa lacuna social, pois oferece a chance de desenvolvimento pleno para todos. Crianças mais pobres atendidas por serviços focados na primeira infância, quando adultas, recebem até 25% a mais, quando adultas, que as não beneficiadas com esses programas, e quase alcançam os rendimentos de adultos que eram privilegiados na infância.
ODS 11: Cidades e comunidades sustentáveis
O local onde as crianças viverão no futuro depende das ações tomadas na nossa época. Assim, todas as medidas para proteger oceanos e ecossistemas, criar cidades sustentáveis, investir em energia e infraestrutura, reforçar as instituições vão influenciar a vida das crianças. Para que elas possam herdar um planeta mais sustentável, os ODS requerem a integração das políticas de mudança climática nas estratégias e planos nacionais e a garantia de serviços de energia acessíveis, confiáveis e modernos para todos. Além disso, o desenvolvimento das crianças passa necessariamente por ela ter acesso a locais seguros e ao contato com a natureza - itens também contemplados nesse ODS.
ODS 12: Consumo e produção responsáveis
Novas ideias sobre o consumismo da sociedade atual já são trabalhadas em programas de desenvolvimento da primeira infância, criando uma atitude de consumo mais sustentável por parte das crianças. Programas que as ensinem a ter atitudes menos consumistas e mais sustentáveis vão ajudar a preservar os recursos naturais e evitar desperdícios. Vale lembrar o artigo 5o do Marco Legal da Primeira Infância, que determina que se evite a exposição precoce da criança de até seis anos à comunicação mercadológica. Isso porque as crianças são mais suscetíveis à publicidade (são mais facilmente manipuladas) e às consequências dos excessos de consumo, tais como: obesidade infantil, erotização precoce, consumo precoce de tabaco e álcool, banalização da agressividade e da violência. Para saber mais, acesse aqui.
ODS 16: Paz, justiça e instituições confiáveis
Intervenções nos primeiros anos de vida têm o potencial de criar uma neurobiologia mais saudável, de desenvolver resiliência nas crianças, além de valores e comportamentos que podem reduzir a violência no futuro e promover a paz.127